Aqueles vinte e poucos anos lhe bastavam...


Certa vez foi questionada: “De que valem os sonhos se quando abrimos os olhos, toda aquela magia se esvai? De que valem os beijos sem amor, os abraços sem afeto, as lágrimas sem culpa e um olhar sem paixão?"
Ela teve que pensar por um tempo antes de se aventurar em uma resposta, e tranquilamente disse: “Os sonhos nada mais são do que projeções daquilo que desejamos muito, se a magia se esvai é por que não fazemos por onde mantê-la, não seguramos os grãos de felicidade em nossas mãos, não damos valor às pequenas coisas e acontecimentos de nossas vidas, sempre nos apegamos à monotonia da tristeza, à melancolia da saudade e nos fazemos de vítimas de nossas próprias escolhas... A magia, quando realmente existe, permanece dentro de nós como uma brasa queimando branda, tranquila e que depende exclusivamente de nós para se tornar uma grande chama capaz de acalentar nossos corações...”

Fez então uma breve pausa, passando a mão em seus cabelos longos e negros. Foi escolhendo as palavras, seu olhar parecia estar distante, as mãos estavam quentes, o coração acelerado... Ela prosseguiu: “Os beijos sem amor são aqueles que nos ensinam o valor de um sentimento verdadeiro, são eles que nos preparam para novos sentimentos, mesmo que não haja amor, existe o desejo, e neste que devemos nos apegar quando nosso coração já está cansado de buscar respostas, cansado de pedir por amor, cansado de renuncias...”

Com a boca seca, e os olhos já marejados, novamente ela parou, dessa vez olhando seu velho caderno de poesias sem rimas e lembrando-se dos beijos, amores e desejos que já haviam passado por sua vida e também nos que ainda estariam por vir... Tirando aquele nó da garganta, disse: “Nos abraços podemos sentir a alma da pessoa, os corações se encontram e em frações de segundos podem pulsar compassadamente, onde cada batida significa uma memória marcada... Estes quase nunca são trocados quando não existe afeto, cabe a você saber identificar os merecedores desta troca silenciosa...”

“As lágrimas, por sua vez, dizem muito mais do que as próprias palavras são capazes, elas vão além e tentam buscar o sentimento mais intimo, a fraqueza, o medo, a culpa... E é justamente pelo olhar, pela porta da alma, que conseguimos enxergar através das pessoas. São eles que nos mostram a sutil diferença entre cada uma com a qual nos relacionamos... Por isso simplesmente não é possível amar duas pessoas da mesma maneira. Você ama cada uma de um modo diferente e especial, por ela ser quem ela é e pela especificidade do que ela recebe de você. E quanto mais vocês se conhecem, mais ricas são as cores desse relacionamento."

Ela terminou e voltou seu olhar para o horizonte, permitindo-se notar uma singela lágrima escorrer por sua face...

Volver al inicio Volver arriba O tempo passou na janela, e só Carolina não viu.... Theme ligneous by pure-essence.net. Bloggerized by Chica Blogger.